segunda-feira, 15 de março de 2010

Fomos, então voltamos

Sabe, sempre procuro no meu dia-a-dia provas de que as coisas definitivamente mudam conforme a passagem do tempo. É um conceito que precisa de constantes confirmações, já que a relatividade da questão, e a constante dúvida que a ronda, são de fato irritantes. Tenho, porém, em minhas mãos orgulhosas, uma prova concreta e material da discreta mudança das coisas através da passagem do tempo: um certificado. Certificado do quê? Oras, de que o trabalho "Pelas ruas de Angola - uma análise do livro Os da minha rua de Ondjaki", estava exposto na FEBRACE - Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, durante essa semana que passou.

Quer mais explicações? Bom, acho que basta lhe dizer que, há exatamente um ano, tal trabalho ainda não estava tampouco previsto. Ou então, que a feira em questão me era desconhecida até final de junho, também do ano passado. Ou ainda, que até o começo de dezembro não havia quase nenhuma expectiva de classificação e participação, menos ainda de premiação - pois é, nosso trabalho foi premiado pela Microsoft Brasil e pelo Centro Paula Souza, se é que minha mãe ainda não lhe contou...

Tudo nos veio tão rápido que ainda não houve tempo para processar todas as informações. Existem, porém, algumas coisas muito bem esclarecidas desde o começo de tudo: a FEBRACE é algo grande, extraordinariamente importante. Enquanto em meu estande - ao lado de Ana, minha fiel companheira - toda a grandiosidade da situação, por assim dizer, se tornou ainda mais clara. Afinal, do outro lado do nosso corredor, havia pessoas de Maranhão e Jaguaribe. Atrás de nós, gente vinda de Brasília e Ceará. Nos corredores próximos, alunos de escolas de Manaus, Rio de Janeiro, Porto Alegre, pequenas cidades do interior de Minas. De todos os cantos do Brasil, jovens apresentavam seus projetos, ideias que desenvolveram com paixão e persistência. Percebia-se uma marcante preocupação com o futuro e com a sociedade, em resolver diversos problemas que também os atingem, e de certo modo consertar o mundo. E além de tudo, uma forte vontade de inclusão social, assistência e justiça. Projetos e soluções das mais variadas, todos juntos na mesma tenda.

Mas, claro, tudo isso significa algo maior. Estávamos todos ali demonstrando o poder criativo dos jovens, que com coragem - e um grande incentivo de seus orientadores - usaram a ciência (e tudo o que esta significa) para a construção de um mundo melhor. Pois afinal, é isso que essas feiras de fato representam: um incentivo à criação, à pesquisa e ao descobrimento de coisas que tornariam nosso mundo melhor. Jovens interessados, participativos, apaixonados e determinados, participando ativamente do mundo que os cerca.

Hoje, porém, a rotina voltou ao normal e olhe, não vou lhe negar que magoa um pouco ter de encarar a dura verdade tão cedo de manhã, e perceber que esses jovens determinados e interessados, infelizmente, não são a maioria. Mas já é gratificante o bastante pensar que, pelo menos, eles existem, espalhados por todo este enorme país, incentivando, cada um de uma forma, a ciência e a participação na sociedade, criando uma nova geração de cientistas e pesquisadores, cujas mãos manipulariam, até mesmo definiriam, o futuro de todo o planeta.

A continuidade destes incentivos é importante, assim como a perpetuação da curiosidade e da  força de vontade.



Qualquer um que lê este blog, saiba: o mérito não vem só da vitória; a experiência não brota do nada; a paixão pode o levar bem longe; a coragem é uma virtude e o otimismo, um dom. E essas são só algumas das milhares de coisas que aprendi durante a semana passada.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Para Teresa

Era grande. Resistente. Presa ao chão com suas fortes raízes, um largo tronco com textura macia. Parecia medir quilômetros de altura. Enormes galhos se alongavam pelos céus, tortuosos mas delicados. Uma sombra fofa e refrescante dominava a praça. As folhas verdes, quando caiam, formavam um lindo tapete por toda a rua. Aos seus pés, a vida criava e existia – inspirados pela sua grandeza? com certeza. Parecia sábia, dona de toda a natureza que a cercava. Sabia se curvar em harmonia com o vento. Sabia acolher e confortar. Alcançava e protegia a todos igualmente.

O outono vinha todo ano, regularmente. O vento frio carregava um cheiro úmido, o sol brilhava alto no céu. As folhas caiam, deitavam-se na lama e no concreto, os galhos pelados pareciam espetar as nuvens. Uma estrutura magra se desenhava no céu azul. Mas então, a primavera vinha. Vinha sim, todo ano também. As folhas que cresciam desde o último outono já se mostravam grandes e saudáveis, um forte verde escuro. Uma copa fofa se formava por cima de tudo. Flores nasciam, com pétalas delicadas e macias. Os pássaros e abelhas reapareciam, grama crescia por toda a praça.

Quando nasci, já estava lá. Rodeada de tantas outras, igualmente fortes, mas não tão admiráveis. Sempre no mesmo lugar, sempre com a mesma calma e serenidade, sempre resistente, sempre acolhedora.

E é essa a imagem que ficará na lembrança para sempre.