terça-feira, 22 de março de 2011

passado - futuro

É estranho mexer em papéis velhos e ver, com sua própria letra, ideias que já esqueceu que teve. 

Outro dia mesmo revirava em uma pasta que guarda quase todos os seus escritos desde 2007. A caneta muda, a grafia muda, os temas mudam – deus, até as opiniões mudam! – mas tudo é indubitavelmente meu. Reli contos e notas, coisas das quais hoje discordo das quais sinto vergonha, que quase não entendo. Mas como todas vieram de mim, como filhos, guardo e protejo. 

Em algum momento enquanto relia notinhas, encontrei uma carta – uma daquelas sem remetente, feita para ser lida apenas no futuro. Aparentemente, me esqueci dela, e a achei quase um ano depois do planejado. O pior é que me lembro perfeitamente de ter escrito a carta, de estar ainda no apartamento velho, sentada na ponta do sofá mais distante da janela, de vez em quando olhando as árvores verdíssimas balançando na janela. Lembro da situação como se fosse recente o bastante (ou importante o bastante...) 

Foi escrita no comecinho do meu primeiro colegial, em uma página do meu caderno de química, com uma caneta que emprestei para um menino que já saiu da escola (e levou a caneta junto, inclusive). Dizia coisas nervosas, aflitas, o quanto estava ansiosa para os próximos três anos e me perguntava se, durante aquele ano, consegui mesmo concretizar todos os planos – e, na verdade, alguns que foram esquecidos, outros ajustados, outros alcançados, outros postos propositalmente de lado... 

Depois de dois anos, o que me digo sentir não é nem mais verdade. Minhas ansiedades têm outros motivos, meus medos têm novas origens e meus escritos têm traços diferentes. É engraçado pensar no quanto mudou, como o tempo passou sem que tivesse percebido, e coisas que antes me pareciam tão dolorosas já são familiares – (“... semana que vem temos a nossa primeira prova de biologia. Enquanto estiver lendo essa carta, já terá feito no mínimo uma dúzia delas, mas mesmo assim, mesmo pensando assim, está nervosa com a primeira...”)
 
 Agora tenho certeza que sou com muito diferente de quem era no começo de 2009, eu cresci, e gosto disso.

terça-feira, 15 de março de 2011

3am


Assisto as horas passarem por mim. Não me tocam, não me mexo. Objetos imóveis, inexpressivos, frios – todos espalhados pelo quarto onde me confino. A música toca de novo e de novo, no mesmo volume, tom, cadência, e me pergunto como não me enjôo. 

É o tédio, é a preguiça, é o cansaço, é a insônia – tudo na mesma madrugada. É só quando, depois de olhar um ponto fixo por algum tempo, as cores e formas começam a se misturar é que devo ir me deitar, agasalhar-me por entre o edredon e finalmente dormir (e esperar, pois é apenas o dia seguinte que guarda a possibilidade de uma próxima noite tranquila).