quinta-feira, 10 de maio de 2012

L

Ela, só assim, uma personagem. 
Sim, daquelas que estão sempre em cena nos contos de natal, esquentando o ambiente com carinho. Toda real porém, mulher de carne, osso, coração e alma. 
Corajosa eu sou!
Os olhos semicerrados pelo sol do meio da tarde, conta história depois de história depois de história. Mãos atadas sobre o colo, tornozelos cruzados. Os ombros erguidos perto das orelhas - tá frio, non? Com amor, nós a ouvimos. Orelhas atentas às reviravoltas, acompanhando cada portanto, cada senão. A frase começa de novo e de novo, as sobrancelhas se curvam procurando a palavra certa, a entonação que sobe e desce até que conclui - 
Eu, hein!?
No rosto redondo, cada ruguinha guarda uma emoção, um sabe que uma vez... Uma vida inteira. 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

7am

o ponto de ônibus fica no topo da ladeira, bem em cima da barriga da rua que logo ali na frente volta a descer. a luz que nasce e cega, o sono insistente pesa, e os olhos se forçam fechados. dali a pouco, chegando, um som mais baixo do que os carros, mas com certeza se aproximando - o que é isso? um som molhado de respiração ofegante. mais quatro patas cansadas que tictic passeiam no concreto. Espere - ouça mais atento, conte de novo: são duas respirações e pelo menos seis patas que tictictec sobem a calçada. puxa, que sincronia! na cabeça, lendas urbanas circulam e se anulam (nenhuma caminharia em plena luz do dia!). o som está bem perto agora, só um braço de distância... dois olhos abrem curiosos, descobrem: um homem de boca aberta passeia o seu cão com a língua de fora. 
ora, só isso?!