O filme "Almas à Venda", mais ou menos recente nos cinemas de São Paulo, é o primeiro longa da diretora e escritora Sophie Barthes. Nele, o ator Paul Giamatti (conhecido também como "Ah, aquele cara!", antes de passar a ser lembrado como "Ah, o barbudo que fez Sideways") interpreta Paul Giamatti, um ator passando por uma fase emocionalmente complicada de sua carreira em que, frustrado, acha-se "misturando" com o seu personagem de sua próxima peça, Tio Vânia do russo Anton Tchekhov. Assim, Paul acaba conhecendo, através de um amigo e uma reportagem no New Yorker, de uma empresa/clínica removedora de almas, que propõe serviços variados, como uma troca ou apenas a estocagem temporária. E ainda aceitam cartão de crédito. Seduzido pela possibilidade de se livrar - temporariamente - de seus problemas (por mais apavorado que estivesse com a ideia absurda de remoção de almas) Paul vai até ao tal lugar, fica desalmado, e então a história se desdobra, um pouco dramática com toques de humor.
Com certeza, podemos encontrar por aí milhares de comparações entre o "Almas à Venda", "Quero ser John Malkovich" e "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças"; com as quais, claro, "Almas..." acaba perdendo um pouco de seu charme, já que não supera de jeito nenhum os outros dois mencionados. Afinal, ao longo do filme existem algumas falhas de roteiro, mas só alguns detalhes, aqui e ali, que quase desaparecem quando no todo. E também Dina Korzun, que interpreta Nina, a mula de almas russa que acompanha fielmente Paul em uma parte da história, me pareceu muito bland, talvez até demais - se bem que, se considerarmos o contexto e forçarmos um pouquinho, podemos perdoá-la por uma performance exagerada. Giamatti, porém, está ótimo ao natural, com aquela cara irremediável de loser sem esperanças.
Mas, uma resenha deste filme não estaria completa - nem correta - se não levantarmos a questão mais importante, que molda e dá sentido pra todo o filme: a alma humana.
Afinal, você se livraria da sua, se houvesse essa possibilidade? - é o que eu me perguntei durante todo o filme. Pois todos nós temos períodos ruins, algumas crises e dilemas, faz parte da aventura de viver (perdoe-me o clichê inevitável) mas não são todos que conseguem seguir em frente sem grandes sequelas. E o que se faz então, se a cicatriz que lhe impede de viver está cravada n'alma? Livra-se dela, simplesmente assim? Então depois, vive-se literalmente desalmado, ou se aceitar um outro serviço da empresa, com a alma de uma outra pessoa, só para evitar aquele sentimento angustiante de tédio e de vazio - pois eles existem, mesmo quando sem alma.
Mas, veja só, se tédio e vazio podem ser traduzidos, de acordo com alguns poetas do mundo, em tristeza, temos então uma evidência de que não é a alma que nos faz sofrer, pois talvez não é seja na alma em que se abrigam essas sensações e carências. Contudo, se não é isso o que a alma abriga, para que serve então? Seria ela, de fato, a raiz de nossos problemas e crises emocionais? Ou seria apenas, como afirma um personagem, "mais um órgão", peculiar e único.
Bom, eu não sei. Tenho tentado descobrir, é verdade, mas ainda não consegui chegar a nenhuma conclusão satisfatória, pois toda vez que pareço avançar um passo acabo me encontrando com dúvidas ainda maiores e piores. Saí do cinema um tanto atordoada, cheia dessas questões me martelando a cabeça, e fui logo procurar conforto em uma boa xícara de cappuccino. Quente, com um forte gosto de canela, descia pela garganta enquanto eu me perguntava 'Será que foi a minha alma que me fez sentir isso assim?'. Ao descer do ônibus, voltando para casa, quase tropecei, levei um susto e senti um nó se formar na boca do estômago, enquanto eu me perguntava 'Será, mas será mesmo, que foi essa minha alma - e minha alma apenas - que me faz sentir este medinho de cair na rua? que me inibe de colocar uma vírgula a mais em um texto? que me ajuda a me definir minhas posições diante da vida?'
Não sei se um dia chegarei a alguma conclusão. Também não sei se quero, ou mesmo se deveria, já que foi o "Progresso. O triunfo da mente" que - teoricamente - possibilitou o desenvolvimento de técnicas removedoras de almas. Por enquanto, pararei esses meus questionamentos. Claro, se algum dia chegar a algum lugar, aviso para vocês. No momento, só posso afirmar que não - não removeria minha alma, nem mesmo por um curto período de tempo. E eu também os convido a assistir o filme "Almas à Venda" e a, talvez, chegar às suas próprias conclusões. E me contá-las depois, claro.
Bom, eu não sei. Tenho tentado descobrir, é verdade, mas ainda não consegui chegar a nenhuma conclusão satisfatória, pois toda vez que pareço avançar um passo acabo me encontrando com dúvidas ainda maiores e piores. Saí do cinema um tanto atordoada, cheia dessas questões me martelando a cabeça, e fui logo procurar conforto em uma boa xícara de cappuccino. Quente, com um forte gosto de canela, descia pela garganta enquanto eu me perguntava 'Será que foi a minha alma que me fez sentir isso assim?'. Ao descer do ônibus, voltando para casa, quase tropecei, levei um susto e senti um nó se formar na boca do estômago, enquanto eu me perguntava 'Será, mas será mesmo, que foi essa minha alma - e minha alma apenas - que me faz sentir este medinho de cair na rua? que me inibe de colocar uma vírgula a mais em um texto? que me ajuda a me definir minhas posições diante da vida?'
Não sei se um dia chegarei a alguma conclusão. Também não sei se quero, ou mesmo se deveria, já que foi o "Progresso. O triunfo da mente" que - teoricamente - possibilitou o desenvolvimento de técnicas removedoras de almas. Por enquanto, pararei esses meus questionamentos. Claro, se algum dia chegar a algum lugar, aviso para vocês. No momento, só posso afirmar que não - não removeria minha alma, nem mesmo por um curto período de tempo. E eu também os convido a assistir o filme "Almas à Venda" e a, talvez, chegar às suas próprias conclusões. E me contá-las depois, claro.
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Mário Quintana