Deitada na grama, posição fetal como uma concha, só que solitária. Uma das mãos espalmada sobre os olhos, protegendo-os do sol – uma escuridão forjada. Uma formiga sobe-lhe o cotovelo, mas está tão absolutamente inerte que já nem percebe quando o mundo a toca.
Longe, uma marolinha tímida se levanta na represa e bate na lama. Tudo bem, nem barulho faz. Dois ou três passarinhos travam um diálogo, risos e muitas interlocuções – parecem se divertir. As folhas das árvores mais próximas chilreiam, galhos rangem com a brisa que passa, e ela dorme. Uma mosca, zumbido constante em seu ouvido; não acorda, apenas desperta.
Encontra cores navegando pelo ar. Sabe que sonha. Vê edificar-se ao seu redor um jardim, algo que jura já ter visto antes, mas onde? Ninguém sabe. Traz calma, porém. Sorri, pois tudo era tão bonito. Mas então, em um parque de diversões – luzes, brilhos, risos – é envolvida em um abraço, protegendo-a do relento que cai sobre o carrossel. Não é que faz frio, mas é que tudo fica melhor assim.
Do lado de fora alguém a chama – é alguém querido, mas quem mesmo? Não importa, já sente pelo timbre da voz que aquele alguém a queria bem. Alívio.
Será que deve ir? Pois ir seria sair deste sonho, que neste exato momento, levava-a andando a cavalo por entre um campo de margaridas azuis e vermelhas. É, talvez deva ir mesmo assim, e ver para que a chamam. Pode ser importante, não é? E pode ser que, mesmo que as flores desapareçam com o abrir de seus olhos, o céu continue azul e alguém a ame.
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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana