ele estava claramente nervoso. balançava as pernas, rasgava um guardanapo em pedacinhos, dava pequenos goles na sua água com gás, olhava para a entrada da padaria - e recomeçava. de repente se lembrava de algo, retorcia a bochecha como se tentasse piscar um olho só e escrevia mais uma frase num guardanapo que parecia conter uma lista. roía as unhas, olhava para o teto. escrevia mais alguma coisa no papel. e recomeçava.
então ela chegou. roupa social, como se tivesse saído de um escritório, mas cabelos loiros soltos e bagunçados, como se tivesse andado muito tempo no vento - e ventava bastante lá fora. entrou na padaria e logo o viu, abriu no rosto um sorriso aliviado, satisfeito. ele endireitou a postura, passou uma mão no cabelo enquanto a outra fazia um aceno tosco. suava.
ela sentou na frente dele, contou-lhe uma coisa ou duas - o trânsito, a condução cheia, a chuva que vinha. e sorriu mais uma vez, aquele mesmo de antes. ele a olhava na transversal, desconfortável. estava óbvio que não ouvia tudo o que ela dizia. então, ela lhe perguntou se tudo bem. ele lhe mostrou o guardanapo
- cheguei aqui faz tempo. escrevi essa lista, achei treze motivos por que a gente tem que se divorciar.
os ombros dela desabaram, os braços caíram ao seu lado. sua nova postura a fez diminuir muito de tamanho diante do homem agora de braços cruzados e costas eretas. eles se olharam por um minuto longo. silêncio. agora com as mãos sobre os olhos, ela chorava. e ele balançava as pernas, rasgava um guardanapo em pedacinhos, dava pequenos goles em sua água com gás, olhava ao redor. e recomeçava.
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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana