sábado, 6 de fevereiro de 2010

Os monstros também choram

Onde vivem os monstros é um bom livro. Escrito e ilustrado em 1963 por Maurice Sendak, publicado aqui no Brasil pela Cosac Naify em outubro do ano passado, se tornou não apenas o livro infantil favorito de Barack Obama, mas também conquistou milhares de pessoas ao redor do mundo. Pessoas de todas as idades. Ponho a culpa de todo esse sucesso nas ilustrações maravilhosas e na história comum na vida de todos que, em algum momento, precisaram de um abraço.

Onde vivem os monstros é um ótimo filme. Dirigido por Spike Jonze, acompanhado de uma trilha sonora maravilhosa, com uma fotografia coerente mas ao mesmo tempo surpreendente e com a atuação de enormes bonecos reais com apenas suas expressões animadas por computação. Ultrapassa todas as fronteiras de adaptações cinematográficas da literatura. É uma verdadeira releitura da obra, quase uma reinvenção. Que deu muito certo, se você quer saber a verdade.

Max e o monstro Carol, em cena do filme Onde vivem os monstros.

Max, menino solitário e imaginativo, está sempre a procura da atenção de sua irmã mais velha e de sua mãe. Inventa brincadeiras e histórias malucas, perde-se em suas fantasias e tudo o que realmente quer é ter companhia. É um garoto pequeno, não sabe lidar muito bem com sua carência e acaba fazendo coisas erradas - ás vezes muito erradas mesmo - para conseguir o carinho que deseja. Por causa de uma de suas apelações malcriadas, Max é mandado pela mãe para o seu quarto, sem jantar. Magoado e fantasiado de lobo, foge, sobe no seu veleiro e viaja por dias e noites até encontrar a ilha onde vivem os monstros. Proclamado rei pelas criaturas que encontra - os monstros, obviamente - Max começa bem o seu reinado, até que percebe a verdadeira dificuldade em manter todos satisfeitos o tempo todo e, também por estar com saudades de sua família, decide voltar para casa.

Quando dito assim é tudo muito óbvio. Perceba que nem me incomodei por lhe contar o fim da história. É porque não é o que verdadeiramente importa. Pelo menos não neste post.

Não pude evitar me identificar com Max, ou com alguns dos monstros - pois estes podem até ser vistos como representantes dos sentimentos do garoto. Não pude evitar simpatizar  com o  ser que nunca é ouvido, com a criatura imprevisível que quer destruir/devorar as coisas/pessoas de vez em quando, com o monstro que se esconde no canto da cena e quer apenas fazer a coisa certa. Mas principalmente, com a criança solitária que quer apenas companhia, e que se decepciona constantemente com a impossibilidade da realização de seu simples desejo. Claro. Não se pode negar que esta sensação é comum em todos. Todos que também gostariam de ser 'rei' para proclamar "Deixe que a bagunça selvagem comece!", todos que desejam possuir um enorme escudo antitristeza, e todos que se sentem invadidos pela solidão de vez em quando. E a julgar pela quantidade de pessoas saindo da sala do cinema com os olhos vermelhos de choro, não fui a única satisfeita com a familiaridade que encontrei na história e o conforto em saber que até mesmo os monstros sentem medo e solidão ocasionalmente. Até monstros choram de tristeza.

Todos podem se encontrar em algum pedaço da história. Assistam o filme Onde vivem os monstros.

Um comentário:

  1. filha,
    eu dormi no filme...não porque não tenha achado interessante, mas pq estava simplesmente exausta naquele dia....depois de ler o post prometo ver de novo...num dia mais tranquilo e me deixar emocionar como você. beijoca da mamãe sonolenta :)

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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana