E o que sentia então, era aquilo real? Os carros que passavam à sua frente, a toda velocidade, todos eles de fato existiam? Pois por um segundo, se fechasse os olhos levemente, se encontraria de novo sozinha, perdida em si, tonta com o zumbido forte da vida ao seu redor. A maré viria, sabia bem. Logo no horizonte, a paisagem verde e montanhosa se desmanchava, como uma pintura que derrete. Correra, sentira abaixo de seus pés o asfalto quente e incerto que poderia traí-la a qualquer momento. Acima de sua cabeça, conseguia ver, milhares de quilômetros de ar. Puro ar, e nada mais.
Sabia, ao olhar o farol fechado, que aquele era o seu momento de andar - suas pernas, porém, já haviam desistido de responder aos seus estímulos confusos - até mesmo o seu corpo a abandonava de vez em quando. Estava acostumada com essa sensação. Olhava para os lados, esperando com que os carros avançassem - talvez para cima dela, por que não? - desesperadamente esperando desculpas para ficar parada naquela esquina por mais algum tempinho. Sua mente se esvaziava. De novo, um despertar de seu coração a avisava que a maré logo mais chegaria.
Em suas mãos não cabia mais o tempo que desperdiçou procurando a vida simples. Seus braços fraquejavam, pareciam pesar toneladas, pendurados de seus ombros já arquejados com a culpa e o desanimo do mundo. Sentiu um buraco abrir-se bem na altura de seu peito, de dentro para fora, todas as suas dores em uma explosão que não pode ser contida. Chamou-a de fome, e não mentia. Tinha, afinal, fome de tudo o que via: queria ser, queria ter, queria existir para os outros naquele mundo que, simplesmente, não fora construído para ela. Motos e carros passavam, seus cabelos esvoaçavam, suas pernas tremiam. A angústia crescia na garganta, enquanto via no horizonte a água subindo lentamente
Não poderia evitar, com isso já havia se conformado. Pois então, o que faria agora? Tudo o que lhe cabia naquele momento seria, talvez, largar-se. Para o mundo, para a vida, para deus - tanto faz. Com tantas tormentas premeditadas, a única coisa que considerava viável, era desistir. Não sabia para quem, não sabia por que. Mas iria, sim sim. E tudo ficaria melhor. Iria, não duvide! - se ao menos pudesse atravessar aquela rua.
Não poderia evitar, com isso já havia se conformado. Pois então, o que faria agora? Tudo o que lhe cabia naquele momento seria, talvez, largar-se. Para o mundo, para a vida, para deus - tanto faz. Com tantas tormentas premeditadas, a única coisa que considerava viável, era desistir. Não sabia para quem, não sabia por que. Mas iria, sim sim. E tudo ficaria melhor. Iria, não duvide! - se ao menos pudesse atravessar aquela rua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana