domingo, 29 de maio de 2011

Um cheeseburguer e batatas fritas para acompanhar


“Oi, desculpa...” disse a senhora já se sentando ao meu lado, enquanto almoçava no balcão da padaria. Envergonhado por ter maionese até nas bochechas, apenas olhei-a gentilmente. “Desculpa te perturbar mas... É que eu tava te olhando ali do outro lado do balcão e...”. Verdade, estava mesmo, não parou de me encarar desde o momento em que entrei, e com olhos tão curiosos e perfurantes que não pude evitar ficar bastante desconfortável. “Sabe, meu marido morreu faz tempo, ontem fez 10 anos e, eu não sei se é por isso mas, quando eu olhei pra você...”. Já havia engolido e a esperava terminar a frase para dar a próxima mordida. Ela hesitava muito, como estivesse para me contar o maior segredo de sua vida. Encarei-a como quem diz: “Sim...?”. “Qual o seu nome?”. Marcos, disse com a boca meio fechada com medo de ter alguma alface entre os dentes. “Desculpa? Marcos?”. Arregalou os olhos, mordeu o lábio e segurou a gargantilha de prata. Sim, por quê? “Você vai achar que sou uma velha louca, mas... É... Você acredita nessas coisas de reencarnação?” Ahn, não senhora, desculpa, mas acho que não. “Ah ta, não... Tudo bem, é que quando eu te vi eu te achei tão parecido com... sabe, meu marido, meu Marcos, esse era o nome dele, desculpa o incômodo, viu? Meu Deus, deve achar que sou senil ou algo assim, desculpa de novo, termine seu almoço. Boa tarde.” E eu lhe garantia: não não, imagina, o que é isso, não foi nada, mas desculpa mesmo tá?, é que eu não sou dessas coisas, nunca se sabe, bom, boa tarde...

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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana