Pés numa sincronia atrapalhada. Girar infinitas voltas com os braços abertos – o vestido se torna um balão. Os olhos fecham de tontura. Um sorriso aparece no rosto, ofegante.
Grama. Poças d’água. Parque. Machucados no joelho. O sono. O sofá. O corpo esguio, estirado nas almofadas. Branca de neve, a fita cassete que falha sempre na primeira fala do Zangado – o que era mesmo que dizia? O colo da mãe. Ou do pai, quem estivesse disponível na hora.
Desperta. Uma fração de segundos passa, e então os olhos estão abertos – simples assim. Às vezes o sono volta, o sonho se renova. Ou não, e então se levanta de sua caminha, a casa adormecida, a meia-luz esfumaçada. Independente, rouba bolachas do armário do meio. A mãe acorda com o barulho, faz um cafuné, dá-lhe um beijo na testa. A franja bagunçada.
O resto da casa desperta. Sol a pino, bate meio-dia. Da cozinha, muito barulho, alguém fala alguma coisa – o quê? Não, nada... A irmã assiste TV, hipnotizada – deveria estar se arrumando para escola! Um quebra-cabeça, 20 peças, espalhado pelo tapete; uma peça se esconde despercebida embaixo do sofá. Será perdida, e logo o focinho do cachorro!... A irmã ri – do quê? Não, nada não... A escada de Lego que nunca dá certo e – droga! – desmorona. Um barulho inunda a sala e a irmã se irrita, perdeu a piada. Almoço, a barriga é pequena, não cabe muito. Confusão. A mãe fala, o pai fala, a irmã se levanta. A porta aberta, o vento bate na janela, o pai acena (“tchau, bebê”), a irmã passa reto, nem liga.
Meio da tarde, brisa fina passa pela janela. Pés descalços no tapete macio, numa sincronia atrapalhada. Girava infinitas voltas com os braços abertos. Os olhos fecham com a vertigem, um sorriso aparece no rosto. Para, cai, deita no chão mesmo, ofegante. O sono, o sofá, o corpo esguio esticado nas almofadas. Poderia dormir até depois desse dia. Branca de Neve, a fita cassete que falha – qual era a fala mesmo? Já até esqueci... A mãe vem, dá-lhe outro beijo na testa “já já eu venho brincar com você”. Expectativa nasce, se opõe ao sono – brincar? Brincar de quê?...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana