quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Andar é reconhecer, olhar*

Sabe, eu volto da escola a pé. Três vezes por semana ando pelos mesmos longos quarteirões me sentindo bem, passos firmes, independente das perdas ou vitórias da manhã escolar. Talvez seja porque me bate no peito uma longa sensação de liberdade assim que começo a caminhar, ou pode ser o conforto mesmo, pois afinal sempre sei para onde estou indo – casa. Tão bom, não? saber que se caminha para o lugar mais aconchegante e acolhedor de todo o mundo, e que lá poderá se desprender de suas dores e responsabilidades, por alguns momentos pelo menos, e ser quem realmente se é.

Ontem, andando por ali pela última vez do ano – pois finalmente foi o meu último dia de aula – e tomada pela nostalgia das despedidas temporárias, lembrei-me da primeira vez que passei por ali sozinha, logo no começo do ano. Sabe, este foi um ano de mudanças – cheguei afinal no primeiro colegial – e consigo me lembrar bem de como andava saltitando pelas calçadas, evitando as rachaduras do concreto, pensando preocupada no futuro incerto que viria. E foi ontem que eu finalmente percebi que ele veio, quase como eu havia imaginado. Claro que  menos harmônico e “Julia-cêntrico” que o idealizado, mas veio, passou e acabou. Mas não é disso que quero falar agora, afinal demoraria demais e o ano não acabou ainda. Queria apenas dizer que me intriga muito o quanto eu me construí durante essas caminhadas, e que só percebi isso ontem.


O que acontecia é bem claro: passava a manhã na escola e convivia com pessoas, forçadamente ou não. Via e ouvia coisas que não me agradavam ou que me chamavam a atenção. Tudo isso em um ritmo bem rápido e contínuo. Em casa, tudo o que queria era esquecer tudo aquilo e ser apenas filha de meus pais por um pouquinho, até que teria que voltar às minhas atividades relacionadas à escola – que por acaso, me atormentaram o ano inteiro. Era apenas nessa caminhada que, livre, podia pensar, quase filtrar, tudo o que havia se passado de manhã. Um processo bem simples, formador de grandes opiniões que me apóiam hoje, me sustentando neste ballet de “sou-o-que-sou”. Muitas das afirmações que hoje faço com muita certeza são baseadas em conclusões a que cheguei enquanto andava sozinha da escola para casa. Engraçado, não? uma caminhadinha tão subestimada que me trouxe tanto para a alma!


* trecho da música "Primeiro andar", Los Hermanos

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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana