terça-feira, 31 de janeiro de 2012

3ª parada, Av. Consolação

era esquisito, sem dúvida. do jeito que andava pela calçada, cambaleava pela avenida, rastejada pela vida. os ombros tortos, como quem carrega peso, a mão esquerda balançando livre na altura do joelho enquanto a direita segurava o elástico da calça na cintura. e que cintura fina, magra, ossuda. vinha mancando, mal dobrava os joelhos, um pé aqui e outro alí nos chinelos de couro gastos. roupas escuras, sujas, rasgadas nas barras. poeira nos cabelos e barba. o ponto de ônibus, cansado, desconfiado, o observava se aproximar com o canto do olho. e ele vinha, fungando, respirando com dificuldade - a boca aberta, a tosse, o barulho úmido do nariz entupido. estava perto do ponto, que agora o encarava com frieza. parou de repente. fungou mais uma vez e deixou juntar na boca a mistura rançosa. malicioso, olhou aos pés no ponto. examinou os sapatos. fixou-se na senhora de sandálias, ergueu uma sobrancelha, exercitou as bochechas, posicionou os lábios e

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

#2

(Agora) permitia-se pender junto ao vento e vascilar com a maré. Neste vem e volta impreciso aprendeu, com cores vivas, a ter-se para si e entregar-se para os outros. Tudo muito novo, sentia-se sem ar diante do novo mundo que construía com carinho. No peito sempre ofegante, sempre pequeno demais para a vida que planejava, sentia um calor adocicado com amor, impaciência e alecrim.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Nota:

(a questão é outra, afinal ainda se sentia a mesma. via-se no mesmo corpo de menina, cabeça de menina, futuro desenhado à giz de cera - tal qual o de uma menina. mesmo assim olhavam-na agora como... não sei, havia sim algo diferente. não era desejo nem escárnio, mas um outro tipo de pecado, algo que sentia bater na sua pele, mas não ardia, não deixava marcas. apesar de não poder tocá-la, a diferença estava exposta, talvez até mais do que deveria.)