quinta-feira, 30 de setembro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Pressentimento

Deitada na grama, posição fetal como uma concha, só que solitária. Uma das mãos espalmada sobre os olhos, protegendo-os do sol – uma escuridão forjada. Uma formiga sobe-lhe o cotovelo, mas está tão absolutamente inerte que já nem percebe quando o mundo a toca.

Longe, uma marolinha tímida se levanta na represa e bate na lama. Tudo bem, nem barulho faz. Dois ou três passarinhos travam um diálogo, risos e muitas interlocuções – parecem se divertir. As folhas das árvores mais próximas chilreiam, galhos rangem com a brisa que passa, e ela dorme. Uma mosca, zumbido constante em seu ouvido; não acorda, apenas desperta. 

Encontra cores navegando pelo ar. Sabe que sonha. Vê edificar-se ao seu redor um jardim, algo que jura já ter visto antes, mas onde? Ninguém sabe. Traz calma, porém. Sorri, pois tudo era tão bonito. Mas então, em um parque de diversões – luzes, brilhos, risos – é envolvida em um abraço, protegendo-a do relento que cai sobre o carrossel. Não é que faz frio, mas é que tudo fica melhor assim. 

Do lado de fora alguém a chama – é alguém querido, mas quem mesmo? Não importa, já sente pelo timbre da voz que aquele alguém a queria bem. Alívio. 

Será que deve ir? Pois ir seria sair deste sonho, que neste exato momento, levava-a andando a cavalo por entre um campo de margaridas azuis e vermelhas. É, talvez deva ir mesmo assim, e ver para que a chamam. Pode ser importante, não é? E pode ser que, mesmo que as flores desapareçam com o abrir de seus olhos, o céu continue azul e alguém a ame.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

VII

(VI)
Seria compaixão aquilo, afinal, aquela vontade inconstante que crescia ardente no peito sempre que via alguém derreter-se em lágrimas ao seu lado - ou será que era apenas inveja?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Noturna

Sabe-se lá quando a noite se tornou uma tormenta. Sabe apenas que há semanas atravessa as madrugadas dada à escuridão, silenciosa, enclausurada no tédio. Ouve o movimento distante de carros e gatunos, imagina o dobrar das árvores que farfalham, pensa nas pessoas que dormem nesse exato momento. O que fazer, o que fazer, o que fazer? Nada. Não tem vontade, ou mesmo a mera concentração. Pega em um livro, escreve uma frase, logo desiste. Prefere permanecer parada, quase empalhada, sentada em sua poltrona que a manterá aconchegada nessa espera aparentemente eterna pelo sono. Olha para frente, mas não enxerga nada. Pensa, pensa muito, mas em nada que se lembrará na manhã seguinte. Não chora, pois não há motivo - é apenas  uma insônia, não há nenhuma tristeza por trás. Há cansaço, muito, que lhe pesa principalmente nos ombros e no pescoço, fazendo latejar também a cabeça e dar uma sensação de ardência contínua nos olhos, mas o sono, propriamente dito, não vem. E se vem também, é perturbado. Traz certos sonhos que a fazem acordar ainda mais cansada e sem entender absolutamente nada, já que, à primeira luz do dia, todos se dissolvem no esquecimento completo. Encara o relógio, os minutos andam... O que fazer, o que fazer, o que fazer?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Nota:

Dei-me para o silêncio, passei algum tempo me concentrando apenas no mundo real. De verdade, não gostei. Logo me cansei daquela rotina massante - sem versos, sem graça - e agora volto correndo para esta vida aqui. Milhares de ideias se passaram pela minha cabeça (poesia é incessante, incontrolável), mas na terrível tentativa de manter os dois pés presos no chão, acabei espanando-as todas para longe - perderam-se no eterno esquecimento. Pena, poderiam ter sido as minhas melhores frases. Mas, como disse antes, agora volto, com bastante energia acumulada para a invenção de mais historietas, além da recém iniciada busca por editoras (santa coragem!).

(Já até voltei a carregar meu caderninho de anotações na bolsa. Espero assim desperdiçar menos ideias.)