domingo, 24 de janeiro de 2010

Escolha feita

5 de outubro. Tenho até marcado em minha agenda o dia em que decidi parar de comer carne. Era uma segunda-feira, portanto havia tido aula geografia naquela manhã. Por que isso é relevante? bom, pois naquela aula nós assistimos o documentário Home, de Yann Arthus-Bertrand (para os interessados, o filme se encontra inteiro no YouTube. Para acessá-lo, clique aqui) Ainda um pouco atordoada com as verdades apontadas pelas imagens maravilhosas que compõe o documentário, decidi - enquanto andava de volta para casa - que não poderia calar-me diante do mundo, que naquele momento parecia balançar por um fio. Fazer algo, sim, sobre tudo - era exatamente isso o que queria - mas como? Então pensei : por que não parar de matar animais? 

Foi uma decisão fácil de ser tomada. Uma refeição sem carne nunca me foi uma refeição perdida. Nunca sofri com a necessidade de comer carne. Assim, calculando quais seriam as vantagens do vegetarianismo, e comparando-as com as vantagens do carnivorismo, cheguei a uma conclusão satisfatória. Meu maior problema foi  ( e francamente ainda é) contar aos outros sobre a minha nova posição ambientalista. É impressionantemente resistente o - chamarei de - preconceito que se tem contra vegetarianos. O que não faz nenhum sentido, afinal (desculpe a grosseria) muitos dos que mais criticam não fazem nada pela parte que os toca. A não ser, claro, sentar confortavelmente em suas casas, ligar a teve e lamentar pela tristeza do Haiti. Que coisa, não?! 

Resolvi justificar-me, oficialmente e de uma vez só. Uma coleção de argumentos que fazem muito sentido para mim. Se concorda ou não, isso é com você. Se quiser me contar se concorda ou não, seja polido e use o espaço para comentários do próprio blog. Não se acanhe, mas não exagere - estou dizendo isso pois já vi todo tipo de nomes feios direcionados à vegetarianos de boa vontade. E isso não é o tipo de coisa que quero para mim. Começarei pelo básico:


- Para os animais:
É verdade que pelo menos 97% dos vegetarianos dizem que não comem carne para evitar o  demasiado, e ao mesmo tempo desnecessário, sofrimento de animais. Também é verdade que todos radicalmente contra o vegetarianismo falam que isso é besteira, que a proteína animal foi a chave para levar a raça humana até o topo da cadeia e continuar essa alimentação não é mais do que natural. Não nego que a proteína tenha feito a diferença, mas deixe-me contar uma coisinha: o mundo mudou, as coisas mudaram. Carne não era uma produção industrial, agora é. Não se comia carne nessa quantidade ridícula, agora se come. Milhares de animais não eram obrigados a viver no próprio excremento, em lugares que não são muito maiores do que a sua sala de estar. Também não eram separados de suas famílias, maltratados, com uma alimentação baseada em antibióticos fortíssimos. Aves têm a ponta de seus bicos cortados, porcos têm seus dentes arrancados e vacas, seus rabos cortados. Tudo isso sem nenhuma anestesia. Vivem doentes, e quem os come é um grande candidato a contrair tais doenças, como salmonella e a doença da vaca-louca. Para melhorar as coisas, muitos deles continuam conscientes enquanto suas gargantas são cortadas, e continuam assim enquanto sangram até a morte. 
Isso não é natural. Isso não é necessário. Isso não tem que fazer parte da sua dieta diária. 
Proteína é importante para a saúde do ser humano, porém comer carne em todas as refeições é um hábito desnecessário. Em média, um comedor de carne mata 100 animais por ano. Poderia tranquilamente matar apenas 90, ou até 80, se estivesse disposto a parar de ser um pouco egoísta e olhar para os fatos verdadeiros de vez em quando.  Animais  são  criaturas muito sensíveis e inteligentes, não temos o direito de tratá-los dessa forma só porque gostamos de churrasco. Além do mais, todos sabemos que 'fiscalização para o controle da crueldade' é uma proposta ineficaz e insignificante. O que seria isso? Certificar que todas as vacas recebem um tapinha carinhoso no dorso antes de ter sua garganta aberta a sangue frio? Não há como remediar a situação, é preciso que tudo isso acabe, e apenas os sete bilhões de seres humanos que vivem nesse mundo têm o poder de controlar isso. Alimentar-se de outros animais é natural em todo o reino animal, não nego. Porém, produzir carne nessa escala exagerada e em tais condições precárias, nunca poderá ser chamado de "natural".


- Para o mundo:
Aquecimento Global é um fato. Não, não é apenas um boato criado por um desocupado e sustentado por ignorantes seguidores fiéis do senso comum que simplesmente precisam acreditar em tudo que vêem para encontrar um sentido na vida (lembra quando eu disse que já vi todos os tipos de nomes feios direcionados a vegetarianos de boa vontade? estes não são nem os piores).
Economizar água e energia, reciclar, andar de bicicleta e usar transporte público, andar mais, apoiar o reflorestamento, energia renovável. Todas idéias muito boas. Mas não adianta se apoiar em apenas uma para o resto de sua vida. É preciso fazer um pouco de cada, talvez até mais do que apenas 'um pouco', e além do mais, diminuir o consumo de carne! Sim, claro! 
Uma parte de todo aquele excremento em que os animais são obrigados a viver é desviada para os córregos mais próximos, poluindo-os em toda a sua extensão - leve em consideração que um porco, por exemplo, excreta por dia 8 vez mais do que uma pessoa. Com essa quantidade de fezes produzida seria possível reconstruir  São Paulo em tamanho real em apenas alguns meses. A questão do gás metano pode parecer uma piada, mas é um fato, um fato mais poderoso que o carbono e ainda mais perigoso do que todos os carros, trens e aviões somados. Extensões marítimas gigantescas são devastadas e o número de espécies de peixes  que correm risco de extinção só aumenta todos os dias. Matadouros e criadores de animais produzem 130 vezes mais lixo do que os humanos, lixo contaminado e tóxico. Também, para produzir um quilo de carne se gasta em média 15,5 mil litros de água. Para um quilo de cereal, gasta-se apenas 1,3 mil litros - ao invés de comer um McDuplo você poderia tomar 34 banhos. Mais ou menos 50% da agricultura é voltada para a produção de ração para os animais. Na Austrália, 58% das terras é voltada ou para a agricultura ou para pastagem de animais; nos Estados Unidos,  80% das terras. Na Amazónia, existem 35 bilhões de cabeças de gado e 22 milhões de habitantes. Agora, lembre-se das aulas de Geografia: as dicussões sobre o uso o risco dos agrotóxicos e  muito produtos químicos nas plantações, os danos que os enormes latifundios com a produção automatizada trazem  para o nosso mundo. 50% dos grãos produzidos, da água disperdiçada e então poluída, das gigantescas áreas desmatadas por dia - tudo isso para alimentar o seu bife, enquanto milhões de pessoas morrem de fome ao redor do mundo. 
Não diga que ao mudar para uma dieta vegetariana essas coisas iriam apenas piorar. Não haveria uma demanda tão grande, nem uma necessidade de uma super rápida produção. Milhares de hectares poderiam ser utilizados para o cultivo de alimentos que serviriam de comida para pessoas, e não para animais que virarão comida. O desmatamento poderá não acabar de vez, mas pelo menos desaceleraria um bocado significante. E, como os vegetarianos são amigos das produções orgânicas e comércio local, a utilização de agrotóxicos e produtos químicos apenas diminuiria.


- Para as pessoas e/ou você mesmo:
É na gordura animal que se encontra o colesterol ruim. Com uma dieta vegetariana, evita-se diversos tipos de câncer, doenças cardíacas, obesidade, diabetes e derrames. E, é mais natural do que cirurgias e medicamentos  para se evitar e/ou curar as doenças anteriormente citadas. Mas esse não é o único motivo...
Eu sei que é dificil imaginar-se num mundo com 7 bilhões de pessoas e ainda se sentir importante, porém é muito importante nunca esquecer de que o que somos, na verdade, não se passa de um enorme grupo de indivíduos. Todas as nossas ações fazem a diferença, todas as escolhas que fazemos afeta, de um jeito ou outro, todo o mundo. É complicado as vezes aceitar essa verdade, já que ela vem com uma responsabilidade gigantesca que nem todos estão dispostos a aceitar. Porém, não me venha com este papinho  de que uma pessoa vegetariana a mais não faz a mínima diferença. São, em uma média muito superficial, 400 milhões de pessoas que escolheram não comer carne no mundo. Existem 1 bilhão de pessoas que não comem por não haver opção. 
Dizer que não faz a diferença, pois a maioria ainda come carne, é só desculpa. Não adianta esperar que os outros façam por você, não adianta apontar para o outro que também não faz nada  e se confortar pois não é o único parado, não adianta justificar a sua falta de ação com falta de esperança, não adianta falar que é muito pequeno  e a sua parte é tão insignificante que nem vale a pena, não adianta chamar os vegetarianos de hipócritas loucos   por acreditarem no poder do povo, não adianta falar que tudo isso é natural, não adianta julgar aqueles que fazem algo para mudar as coisas enquanto você mesmo não tem nada nos seus bolsos para usar de contra oferta, não adianta mascarar a transparente covardia com críticas e caretas, comentários e ignorâncias,  e não se responsabilizar pela sua parte única e individual.
Pode ser que 100 animais salvos por ano seja pouco, mas é o que está nas minhas mãos. É melhor salvá-los do que colaborar com a matança. As mudanças em casa já são aparentes: minha mãe, ao invés de comprar 6 bifes, compra 4, se tanto; meu pai poderia comprar carne para alimentar 5, mas só precisa para alimentar 2, de vez em quando ainda. Eu faço parte de um sistema de compensação, o que eu não como outra pessoa come no meu lugar, e o que esta pessoa comeria é poupado até a próxima refeição - e também, não é só porque eu não como o meu bife que você vai comer dois, certo? 
Li uma vez em algum lugar: enquanto vocês, que comem carne e criticam os vegetarianos, não me mostrarem uma solução mais eficaz do que o vegetarianismo para curar o mundo, sustentada por fatos e argumentos tão concretos quanto os meus, continuarei com o orgulho a minha dieta e a dividí-la com que quiser. 


"É muito tarde para ser pessimista"



Ps: há um novo documentário, narrado por Sir Paul McCartney, sobre vegetarianismo. A matéria da Uol acompanha um trailer oficial. Eu recomendo que vejam, principalmente se precisam de mais alguns argumentos a favor da vida verde. Porém, as imagens são fortes, afinal, é um documentário sobre os matadouros de animais... Assista, mas não se force até o fim - e não se culpe se tiver que parar antes do quinto minuto. Clique aqui

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Queridas,

Férias, logo no seu começo, significam promessas. Nossa, e como fazemos promessas para todos, listas de 'coisas que farei este mês' que sempre acabam ficando pra depois. Por problemas de agenda e equivalentes, todas as promessas feitas para amigos e colegas, de encontros e saídas, acabam indo dormir antes do meio do mês. Isto - para os sinceros, claro - desperta o desespero da saudade no coração de cada um, a tristeza e o vazio na alma de quem gostaria de estar acompanhada de boa companhia o tempo todo, como quando em dias letivos. Tudo o que vejo por aí são lembranças e - mais - promessas de saudades. Foi isso que me fez rever algumas fotos e reler alguns posts. Acho que fui um pouco equivocada naquele para as minhas amigas, que fiz há um ano e meio, e quero consertá-lo:



Elas eram quatro. Completamente diferentes umas das outras. Nas suas aparências, gostos, vontades, prazeres, preferências. Se amavam, como prisioneiras voluntárias de uma amizade original.
Vêem-se em vidas com rumos distintos. Enquanto uma sonha em mudar o mundo lendo livros, outra sonha em mudar o mundo e ir para a Lua. As outras duas ainda não tem muita certeza do que as espera, mas eu lhe garanto, leitor, que poderiam ir para onde bem desejarem. Este, na verdade, é um dos fatores mais importantes de todos que suporta esta amizade: o apoio. Mesmo sem concordarem ou se entenderem o tempo todo, sabem quando apoiar, incentivar e até mesmo confortar quando as coisas não dão certo. São sempre sinceras com as suas opiniões e conselhos, regados com os mais puros desejos de felicidade e bem estar. Com o tempo aprenderam a se ouvir, e também a falar. Não há um suspiro que não compartilham.
Ainda é raro estarem todas juntas. Com o passar dos anos e com todas as mudanças nas circunstâncias em que se encontram, parecem se afastar e separar mais e mais. Apenas fisicamente, claro, pois não há um dia sequer que - pelo menos uma delas - não pense nas outras e em todas as piadas que poderiam ter criado. Mas acharam outras formas de se comunicar e de estarem todas juntas. Sempre.
Amizades paralelas não são mais um importuno nesta amizade. Todas tem amigos e amores adicionais, se me permite este nome, mas dentro da roda não há nenhum ciúme. As quatro entendem - não só por causa da distância, mas por causa da simples maturidade que as atingiu um dia - que as outras tem outros em suas vidas, e desde que isso as faça bem, não há nenhum problema.
Aprendem muito juntas. Por serem tão diferentes, não compartilham sempre das mesmas qualidades. O que não é um problema, já que elas se ensinam a compreender e adaptar. Ultrapassam limites, tristezas, tormentas, e eu acredito que tudo isso só acontece pois têm umas as outras.
E ainda juram amizade eterna - e claro, acreditam em todas. Com o passar do tempo, essa coisa de 'amigas para sempre' já não parece mais tão irreal. Quanto mais a distância cresce, mais o carinho se intensifica e duvido muito que isto simplesmente desapareça. A outra opção para a separação definitiva dessas quatro seria alguma traição ou algo do tipo, e isso obviamente não vai acontecer - estou absolutamente positivamente completamente certa disto. A convivência harmoniosa das quatro já está gravada na memória, não só delas mas também de todos que as conhecem, e isso já é o bastante para garantir a eternidade.
Já não brigam mais. E os ocasionais desentendimentos duram minutos, no máximo. As crises individuais estão sempre por aí, mas não há sequer um problema que não possa ser discutido e analisado, e então, claro, superado.
Numa amizade, queridas, não há regras nem padrões, mas amor e fidelidade, e disso nós temos de sobra.
Vocês fazem de mim uma pessoa melhor. Obrigada por isso.
Amo vocês. E o meu para sempre é certo.