segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Noturna

Sabe-se lá quando a noite se tornou uma tormenta. Sabe apenas que há semanas atravessa as madrugadas dada à escuridão, silenciosa, enclausurada no tédio. Ouve o movimento distante de carros e gatunos, imagina o dobrar das árvores que farfalham, pensa nas pessoas que dormem nesse exato momento. O que fazer, o que fazer, o que fazer? Nada. Não tem vontade, ou mesmo a mera concentração. Pega em um livro, escreve uma frase, logo desiste. Prefere permanecer parada, quase empalhada, sentada em sua poltrona que a manterá aconchegada nessa espera aparentemente eterna pelo sono. Olha para frente, mas não enxerga nada. Pensa, pensa muito, mas em nada que se lembrará na manhã seguinte. Não chora, pois não há motivo - é apenas  uma insônia, não há nenhuma tristeza por trás. Há cansaço, muito, que lhe pesa principalmente nos ombros e no pescoço, fazendo latejar também a cabeça e dar uma sensação de ardência contínua nos olhos, mas o sono, propriamente dito, não vem. E se vem também, é perturbado. Traz certos sonhos que a fazem acordar ainda mais cansada e sem entender absolutamente nada, já que, à primeira luz do dia, todos se dissolvem no esquecimento completo. Encara o relógio, os minutos andam... O que fazer, o que fazer, o que fazer?

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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana