sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

One more time with feeling:

Amanhã é um dia novo, de um mês novo, de um ano novo, de uma década nova... Tantas mudanças que meu coração quase não acompanha!

Dessa vez não tenho listas do passado nem promessas pro futuro. Digo apenas que 2010 vai-se bem a tempo, se quer saber o que penso, já começava a me enjoar. As aventuras, felicidades e imagens açucaradas ficarão na memória e no coração, sempre ao alcance. As coisas ruins que se acumularam durante o ano - que inevitavelmente existem, voláteis e autônomas - também nos acompanham na lembrança, boas cicatrizes da alma, e em algum momento nos darão sabedoria.

Mas, pra que pensar nelas agora, hein? Agora que 2011 nos espera tilintando cheio de expectativas e, espero, mais risadas.

Para aqueles que me acompanham, bom, nos vemos em breve!

Bom começo de futuro para todos nós!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Nota:

(E o azar foi do poeta que, por desejar apenas intensos versos, esqueceu como se faz prosa.)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

doze horas


tenho vivido a rotina ao contrário. passo as manhãs e tardes mergulhada em um tédio oscilante, alheia e cansada; os olhos abertos só enxergam paisagens. através da noite, porém, os olhos e o coração ficam despertos, procurando, no escuro, medir a distância do travesseiro até o teto. 

um arrepio passa pela espinha – o relógio narra a madrugada em tons graves. na cabeça pulsam listas imaginárias de compromissos, deveres, tarefas... martelam, incessantes, afastando o sono e o descanso. 

o silêncio oprime à medida que também conforta. forma-se uma pressão abafada, quase um abraço. no ouvido, um zumbido constante incomoda. longe, um carro passa por uma lombada, um cachorro rosna e um galho geme. ruídos, apenas ruídos, não interferem no silêncio congelado do quarto. 

o cobertor pesado aquece a pele, mas não o coração. seria quase um afago, mas sua falta de vida decepciona. o escuro da noite agora se dissolve em penumbra diante dos olhos acostumados, e o quarto calado encara, vazio, de volta. a insônia entristece e lágrimas ensaiam cair. dessa vez, a solidão não conforta. com os olhos forçadamente fechados, procurando, desesperada, um toque gentil, encontro apenas o concreto frio da parede. o toque assusta, quase fere. 

vencida, levanto-me. sei que devo procurar conforto em quem certamente me dará. os passos cuidadosos já conhecem o caminho, o corpo cansado joga-se a frente, desejando o chegar logo. além da porta de madeira, outro universo se estende. mais escuro, mais quieto, mais desconhecido. porém, não vazio, tão simplesmente oco quanto o meu próprio... na cama de casal, minha mãe se estica em uma diagonal, mas acorda com a aproximação dos meus passos. 

trocamos palavras, algumas. O sono encobre algumas das suas, mal as entendo. respondo algo, não ouve. aceita-me com um abraço, ou algo do tipo. coloca seu braço em minha barriga, perto do coração, como se o sono fosse contagioso. 

logo ressona. eu, ainda só, recrio. revivo cenas do dia que foi, relembro sonhos e desejos, refaço aquelas mesmas listas de antes. suspiro, o meu sono não chega.

minha mãe agora ronca. ronrona, na verdade, discreta e gentilmente. é bom, quebra o silêncio, e o seu toque quente quebra o desconforto. meu lado do colchão está quase quente. 

a madrugada passa, os olhos navegam entre o aberto e o desperto. um galo canta, estranhamente. a sol nasce em glória, invade o quarto pelas falhas da persiana. a manhã dourada interrompe meu primeiro cochilo.