“Oi, desculpa...” disse a senhora já se sentando ao meu lado, enquanto almoçava no balcão da padaria. Envergonhado por ter maionese até nas bochechas, apenas olhei-a gentilmente. “Desculpa te perturbar mas... É que eu tava te olhando ali do outro lado do balcão e...”. Verdade, estava mesmo, não parou de me encarar desde o momento em que entrei, e com olhos tão curiosos e perfurantes que não pude evitar ficar bastante desconfortável. “Sabe, meu marido morreu faz tempo, ontem fez 10 anos e, eu não sei se é por isso mas, quando eu olhei pra você...”. Já havia engolido e a esperava terminar a frase para dar a próxima mordida. Ela hesitava muito, como estivesse para me contar o maior segredo de sua vida. Encarei-a como quem diz: “Sim...?”. “Qual o seu nome?”. Marcos, disse com a boca meio fechada com medo de ter alguma alface entre os dentes. “Desculpa? Marcos?”. Arregalou os olhos, mordeu o lábio e segurou a gargantilha de prata. Sim, por quê? “Você vai achar que sou uma velha louca, mas... É... Você acredita nessas coisas de reencarnação?” Ahn, não senhora, desculpa, mas acho que não. “Ah ta, não... Tudo bem, é que quando eu te vi eu te achei tão parecido com... sabe, meu marido, meu Marcos, esse era o nome dele, desculpa o incômodo, viu? Meu Deus, deve achar que sou senil ou algo assim, desculpa de novo, termine seu almoço. Boa tarde.” E eu lhe garantia: não não, imagina, o que é isso, não foi nada, mas desculpa mesmo tá?, é que eu não sou dessas coisas, nunca se sabe, bom, boa tarde...
"Precisava secar as mágoas que me escapavam. E ao dobrar o papel da forma que sempre o faço – na metade, horizontalmente – vi palavras desenhadas em tinta azul, minha letra, por todo o papel..."
domingo, 29 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
Aos que pacientemente esperam:
A maior parte dos meus sonhos são apenas surrealismos abstratos de impressões da vida, pouquíssimos me trazem mensagens. Os que o fazem, porém, são bem lembrados e, quando possível, viram textos e histórias.
Há algumas semanas, tive um desses. E apesar de alguns fatores - como o tamanho dos narizes e a cor incrivelmente roxa da parede da sala - sei que deve ser levado a sério, como se meu inconsciente estivesse me dando a benção para fazer exatamente o que penso em fazer há tempos, dizendo-me que estou pronta.
A verdade é que, embora não tenha dito nada por aqui e tenha contado com poucas pessoas apenas, eu definitivamente terminei O dia em que a noite não veio. Gostei do resultado, tanto que o imprimi e encadernei - e não há sinal maior de oficialidade do que a encadernação...
Estive pensando em tentar a sorte, experimentar, mandar para uma editora e ver o que acontece. Passei umas noites procurando editoras, avaliando os catálogos, anotando endereços. Mas é preciso superar a vergonha, a apreensão e a insegurança antes de fazer qualquer coisa e, até algumas semanas atrás, achava que ainda não estava preparada. Acontece que tive aquele tal sonho, no qual tenho uma reunião com um editor (este que tem a sala roxa e o nariz inacreditavelmente enorme). Tenho a impressão - porque nos sonhos algumas coisas ficam sabidas mesmo sem ser ditas - de que estava na Companhia das Letras (o que foi bastante pretensioso do meu inconsciente, mas tudo bem) conversando sobre uma publicação para a minha história.
Espero que não seja um sonho premonitório, pois aquela conversa tomou rumos esquisitíssimos e, de repente, estávamos na casa da minha avó - e é tudo que vou dizer sobre isso... Mas tenho quase certeza de que foi sim uma benção, e que vale a pena largar de frescura e tentar fazer algumas coisas boas acontecerem.
Acho que vou no correio nessa semana, mantenho-os informados.
Assinar:
Postagens (Atom)