O vento, os carros, o barulho, o sol se pondo.
Ela falava da boca para fora, esbanjando cretinice e orgulho de ter a coragem para dizer aquilo. Olhava para os lados, procurando apoio e cumplicidade.
Ele a olhava com olhos pesados, ouvia com o coração e sentia cair pesadas no estômago todas as ofensas que ela o proferia.
Ele lhe pediu piedade e que, por favor, parasse com aquilo. Ela não levou a sério, disse-lhe mais uma.
Foi a gota d'água.
Ele a pegou pelo braço fino, aproximou-a do seu corpo, apontou-lhe o dedo na cara e, enquanto seus olhos ferviam e chamejavam - 'é melhor você parar com isso agora, se não...'
Ela, de novo, não levou a sério, riu - não apenas um sorriso ou uma risada, mas uma verdadeira gargalhada de deboche e insensatez. Seus olhos ocos e insensíveis.
Ele a soltou, fechou os olhos como quem previa, mas não esperava o pior. Olhou-a como quem não a conhecia - ou tinha vergonha de conhecer tão bem. Virou as costas, foi embora.
Ela gritou mais uma ou duas coisas, não deixou que visse que seu orgulho estava ferido e seu coração, surpreendido. Olhou em sua volta procurando cumplicidade, encontrou apenas o meu olhar fugidio de desaprovação, logo desviado. Bufou, acendeu um cigarro e sentou-se na mesa da frente.
Eu paguei minha conta.