terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Nota:

... estou em Marte? - mas a pergunta visceral, dolorida de ser feita, saiu da boca em tal volume que nem aos seus próprios ouvidos chegou. Por um instante ainda, boba como só ela pode ser, ficou esperando um ou outro eco de sua voz - mas nada, claro. Pega de novo entre o vazio e a surpresa, respirou fundo. Dessa vez seria ouvida, nem que fosse até por outras pessoas também. E quando abriu a boca e sentiu seus lábios gesticularem, percebeu que, involuntariamente - e, portanto, incontrolavelmente - a tal pergunta visceral se transformava numa afirmação maldita - estou em Marte! - ela gritou, sem conseguir se segurar, e ainda repetindo mais duas ou três vezes, cada vez mais alto (talvez para retardar o momento em que lhe restaria apenas seu eco - e mais nada.)

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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana