A manhã poderia ter começado melhor. O sol poderia ter brilhado mais forte, os passarinhos poderiam ter cantado mais alto e o céu de aquarela poderia estar meio tom mais anil. Mas ignorando as possibilidades que não se fizeram, tudo estava ótimo.
E pondo-se na rua, calcanhares no asfalto, andava com um propósito. Não é que tinha pressa, mas certa expectativa crescia no peito, mais e mais, e por isso ofegava.
O que fazer agora que, finda a caminhada, não havia ninguém ao seu lado? Não quem esperava, pelo menos. A solidão inesperada lhe causava constrangimento, olhava ao redor, olhos ofendidos, só para ter certeza do que – não – via. Pôs-se a esperar, já que não havia mais o que fazer. Sentou-se na sombra, as pernas balançavam, uma garrafa de água gelava os dedos.
Com um resto de esperança ainda pelo corpo, suportava o tempo que parecia não passar, a espera do futuro próximo e – certamente – alegre. Mas o presente parecia interminável, alongava-se tanto que nem se podia tocar com as mãos. E os instantes congelavam-se apesar do calor, provocantes.
Olhava o relógio com aflição, os ponteiros que pareciam andar para trás. Passou uma pessoa, mas não era bem quem esperava. Afligia-se. Quase uma hora de espera, a decepção já começara a destruir todo o pouco de esperança que sobrara. Quanta vergonha, ardia quase tão forte quanto o sol. Doía-lhe. Respirou fundo, meio que restaurou a dignidade. Dispôs-se a esquecer o episódio, sabia que seria melhor, arqueou as sobrancelhas para parecer que estava ali de propósito.
Caminhava de volta já, sem pressa mas com uma enorme cicatriz. Respirava a brisa que vinha farfalhando por entre as árvores de giz pastel. Sim, a manhã poderia ter sido bem melhor...