o ponto de ônibus fica no topo da ladeira, bem em cima da barriga da rua que logo ali na frente volta a descer. a luz que nasce e cega, o sono insistente pesa, e os olhos se forçam fechados. dali a pouco, chegando, um som mais baixo do que os carros, mas com certeza se aproximando - o que é isso? um som molhado de respiração ofegante. mais quatro patas cansadas que tictic passeiam no concreto. Espere - ouça mais atento, conte de novo: são duas respirações e pelo menos seis patas que tictictec sobem a calçada. puxa, que sincronia! na cabeça, lendas urbanas circulam e se anulam (nenhuma caminharia em plena luz do dia!). o som está bem perto agora, só um braço de distância... dois olhos abrem curiosos, descobrem: um homem de boca aberta passeia o seu cão com a língua de fora.
ora, só isso?!
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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana