sábado, 20 de dezembro de 2008

A fonte dos desejos

Fechei meus olhos bem apertados, até que nenhuma luz pudesse entrar e segurava a moeda bem firme em minhas mãos, esquentando-a. “Faça o seu pedido,” dizia a placa “respire fundo e jogue a moeda por atrás do seu ombro direito.” A água cristalina mostrava milhares de outras moedas, que reluziam com a luz forte do sol e a grande imagem do Buda esculpida na parede atrás da fonte trazia o tom cômico á situação. Ao meu redor, pessoas riam e jogavam as moedas como se estivessem jogando pão aos patos, rindo sem controle e sem amor. Respirei fundo, era difícil escolher algo para desejar a uma fonte. E eu, logo eu, que quero tanta coisa.
“Eu sinceramente gostaria de ter uma forma de ligar e desligar tudo ao meu redor, inclusive o tempo e o ritmo do mundo. Queria poder chegar ao fim do dia sem preguiça, chorar sem ter culpa. Queria poder prever o futuro, ter tempo de analisar a situação, ter mais tempo pra pensar e também, tomar as decisões certas. Queria saber quais são as decisões certas, e por quê. Queria passar mais tempo sozinha e que os outros pudessem passar mais tempo comigo.
Queria me conhecer melhor, me surpreender mais. Queria conhecer melhor as pessoas ao meu redor, e que elas me conhecessem por completo. Queria poder ler mentes, que a minha fosse facilmente lida. Queria não ter toda essa imaginação, ou que as minhas invenções se tornassem reais. Queria que as pessoas vissem meus sonhos, queria que todas me entendessem, e perceber que elas me entendem sim. Queria ter a liberdade de não ser levada a serio.
Queria poder controlar a minha vida, meu futuro, as pessoas ao meu redor. Queria que algumas coisas desaparecessem e poder reescrever algumas histórias, mas sem perder a experiência. Queria ter completa noção de tudo.
Queira viver do talento; queria ter um talento.
Queria ter o orgulho para me arrepender e não ter essa vergonha de me ter por vencida.
Queria que compreendessem todas as minhas palavras, e que me explicassem o que elas querem dizer. Queria não ter medo, não hesitar, não mentir, não me enganar.
Queria entender o que eu quero; compreender o que é saber.
Queria algo que ninguém mais quer.
Queria sempre me lembrar que é querendo que sei o quanto estou viva.”
Terminei de fazer o meu desejo e joguei a moeda por trás do meu ombro. Ela bateu na beirada da fonte e caiu no chão, fora da fonte. Deixei-a lá mesmo.

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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana