não olhava as pessoas nos olhos para não ser descoberto.
não falava em voz alta para não ser decifrado.
havia coisas que só pensava de costas para o espelho.
guardava segredos que não contava nem para os próprios ouvidos.
mas sentia-se bem em ser anônimo.
no silêncio e na calma, construiu seu próprio mundo.
um mundo, é verdade, que só se edificava quando ele pegava a caneta e num papel branquelo, rabiscava.
linhas retas, linhas tortas, deitadas e de pé.
tão bonitas, tão sensatas, tão concretas.
e simplesmente, o Criador, não sentia mais vergonha – sentia só o sangue que esquentava e as bochechas que enrubesciam e as mãos ágeis que suavam e um sorriso confortável que surgia e na cabeça milhares de ideias.
e se lá fora ele gaguejava, engasgava, hesitava.
aqui dentro ele rabiscava, edificava, construía.
um mundo só seu - não é o que todos querem?
risco sobre risco, círculo aqui, quadrado ali.
e no coração a liberdade que só se encontra no secreto:
- se não há certos e errados,
não há tristes e feios.
risco sobre risco, círculo aqui, quadrado ali.
e no coração a liberdade que só se encontra no secreto:
- se não há certos e errados,
não há tristes e feios.
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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana