segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A barraquinha da venta

Na tarde de ontem eu vi algo que me machuca até agora. Então imagine você, leitor,o tamanho do meu sofrimento antes de começar a me julgar. Para você me entender melhor eu te explico que foi mais ou menos isso que aconteceu:
Estava no parque sozinha, tomando um sorvete, muito feliz comigo mesma e com a minha decisão de ter ido sozinha ao parque. Eu não costumo ir sozinha em lugar nenhum, na verdade eu geralmente estou rodeada de amigos queridos. Mas bem naquela tarde, bem quando eu estava morrendo de vontade de tomar um sorvete de morango do moço da barraquinha do parque, nenhum dos meus amigos pode ir comigo. Todos eles estavam ocupados com os seus coelhos e seus cabelos, e eu não os culpo por terem preferido lavar o cabelo do que ficar comigo - afinal, cabelo lavado é essencial.
Liguei para todos que conheço e gosto, mesmo para aqueles que não falava fazia tempo. Ninguém podia ir no parque comigo. Posso até dizer que fiquei um pouco magoada quando eu soube que ninguém poderia ir comigo. Estava com muita vontade de tomar aquele sorvete, mas não queria tomá-lo sozinha - afinal, quem anda sozinho é por que não tem amigos de verdade, e eu tenho milhões de amigos de verdade.
Porém, depois de tanto pensar e pensar, eu decidi ir sozinha tomar o meu sorvete. Talvez, depois que eu acabasse eu passaria na casa de uma amiga que mora perto do parque.
Quando cheguei lá, comprei o meu sorvete e o dono da barraquinha e começamos a conversar. Ele era um senhor muito simpático, velhinho, gordinho, careca e fofinho. Me perguntou de onde vinha e para onde ia, e eu lhe expliquei "venho da minha casa, e estou indo passar na casa de uma amiga. Decidi parar para tomar um sorvete, já que teria que passar aqui perto, de um jeito ou de outro." Conversamos por um tempo e eu gostei tanto dele que comprei um segundo sorvete.
(Pois é leitor. Agora eu preciso contar para você o que foi que eu vi. E eu peço desculpas por isso, por ter que lhe causar este tipo de sofrimento, mas é que eu preciso que alguém entenda a minha dor, já que os meus amigos não querem nem tentar. Então, prepare-se, e eu peço que me perdoe pela cena que vou descrever agora.)
Ao comprar meu segundo sorvete, percebi que não tinha mais dinheiro trocado na carteira. Então perguntei para aquele senhor se ele poderia me trocar o dinheiro. Ele pegou a nota que eu segurava da minha mão, e procurou por trocados na sua pochete.
Foi então que aconteceu. Ele, tão inocente e mas tão malvado, fez a pior coisa que poderia ter feito na frente de uma dama como eu.
Ele - simplesmente - cutucou o nariz e - com a mesma mão - me deu o troco que eu precisava.