terça-feira, 12 de agosto de 2008

Para sempre Carmela - parte I

Ele era a única coisa que ela desprezava. Ela era única coisa que ele não odiava.
A borboleta azul estava pousada na janela, batendo as asas delicadamente e irritando Rodolfo profundamente. As flores que nasciam no jardim, mostrando a beleza da primavera, estavam sendo preparadas para serem queimadas da forma mais brutal e desumana que se pode imaginar. Os passarinhos, com seus cantos relaxantes, eram expulsos com pedras e balinhas de chumbo.
Rodolfo era um homem grande - não alto, mas grande. Feio até não poder mais, podia ser descrito como a própria figura da besta. Era grande, fedido e burro. Rodolfo era careca, mas tinha uma barba duvidosa. Sua barriga era grande e chamativa e suas canelas, finas e confusas.
Rodolfo odiava tudo. Tudo e todos. Não entendia a razão da existência de muitas coisas, entre elas a natureza, a água e os animais. Ele não gostava muito das mulheres e crianças, ou dos velhos, ou dos homens.
Rodolfo era muito crítico, egoísta e um pouco ignorante.
Mas Rodolfo guardava um segredo muito bem guardado embaixo de toda aquela gordura e maldade, e por mais bem disfarçado que fosse, todos sabiam que ele gostava um pouquinho de Carmela, a filha da vizinha.
Ah, Carmela!
Uma miragem, musa, deusa, perfeição. Parecia uma princesa, de tão bela que era. E como era gentil! Cantava com os pássaros todas as manhãs, cuidava dos insetos machucados e adorava todos os seus mamíferos de estimação - que, só para constar, eram muitos.
Rodolfo vivia sua vida muito bem, de acordo com os padrões que ele mesmo estabeleceu. Ele acordava tarde porque queria, ele almoçava fritura porque gostava, ele atirava nos animais porque isso o acalmava. Era assim que ele passava os seus dias, enquanto Carmela acordava cedinho só para ver o pôr-do-sol, almoçava verduras recém-colhidas das horta e plantava flores coloridas e cheirosas no jardim.

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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana