sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Para sempre Carmela - parte II

Rodolfo acordou um dia se sentindo muito bem. Para ele, naquela manhã tudo estava maravilhosamente perfeito.
A sua careca não brilhava tanto quanto no dia anterior e as suas canelas pareciam um pouco mais grossas. Seu hálito não parecia estar tão ruim, e de repente as flores pareciam graciosas.
Realmente, naquele dia tudo estava lindo. Principalmente Carmela. Naquela manhã, Carmela estava ainda mais linda do que em qualquer outro dia.
Tinha os cabelos loiros presos em uma longa trança, e seu vestido azul claro estava sujo de terra. Pingava suor enquanto regava as plantas no jardim, e até o sangue que saiu do seu joelho quando tropeçou na mangueira estava mais bonito naquele dia.
Após ter caçado o seu almoço, e enquanto tentava limpar o enorme animal, Rodolfo considerou a possibilidade de ir conversar com ela naquela tarde. Rodolfo era apaixonado por Carmela a muitos anos e achava que devia aproveitar a sua beleza temporária para conquistá-la. Rodolfo também pensou como faria isso, e não conseguindo pensar em nada bom o bastante, pensou em como tudo seria se ele conseguisse, afinal, conquistá-la. Mas depois pensou em como ficaria triste quando ela descobrisse do seu medo de relacionamentos, e quando aquele relacionamento dos sonhos acabasse. Mas, para se animar, pensou como ele ia conseguir superar toda aquela tristeza com a garota que ele conheceria no bar. Então pensou em como se sentiria culpado com isso, e como ia sofrer.
Pensou tanto que quase cortou o dedo fora.
Após ter almoçado a sua caça - e depois de escovar os seus dentes pela primeira vez em nove anos - Rodolfo foi conversar na janela com Carmela. Quer dizer, quando ele se aproximou da janela, ela fugiu, entrando em sua casa e indo procurar a espingarda de seu falecido pai.
(Rodolfo, há muitos anos atrás, tentou morder o namorado que Carmela namorava na época, não por ciumes, mas por pura falta do que fazer. Carmela tem medo de Rodolfo até hoje.)
Um pouco decepcionado, Rodolfo foi atrás dela, batendo na porta gentilmente, e pedindo-lhe atenção. Carmela não abriu a porta, mas espiou pelo olho mágico.
Conversaram um pouco sobre o tempo. Carmela achava que ia chover, e Rodolfo explicou-lhe que não, pois as nuvens estavam muito bonitas. É claro que quando Rodolfo terminou a sua explicação, um trovão encheu os ouvidos de todos da vizinhança.
Carmela achou tudo aquilo bonitinho, e disse-lhe que estava feliz em ver que tinha mudado.
Rodolfo ficou tão feliz em ouvir aquilo, que pediu sua mão em casamento.
Carmela, que hesitou em recusar, falou-lhe que eles só se casariam quando ela perdesse total noção do que é bom e do que é ruim - coisa que nunca aconteceria - e que quando ele aprendesse a amar uma joaninha sequer, ela poderia considerar em conversar com ele na janela.
Rodolfo foi embora, direto para a floresta, onde pegou um esquilo para chamar de seu. O pobre esquilo fofinho acabou sendo amado por Rodolfo, que, mesmo com implante de cabelo, não conseguiu conquistar o coração de sua para sempre amada, Carmela.

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"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um deles é burro"
Mário Quintana